FISL14: Metamáquina 2

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Primeira palestra do FISL 2013, retornando após alguns anos sem participar, não pude deixar de conferir essa palestra referente uma impressora 3D livre brasileira, que inclusive estava disponível para venda durante o evento, pelo valor de R$ 3700,00.

Para mim, as impressoras 3D atuais, estão no mesmo estágio das primeiras impressoras de jato de tinta coloridas a uns 20 anos atrás, onde eram muito caras e o mercado era dominado por impressoras matriciais. Com o tempo, a tecnologia vai reduzir custo, ter melhor qualidade e se massificar.

Em relação a palestra, Felipe Sanches tomou conhecimento da tecnologia de impressoras 3D em um Hackerspace, durante sua peregrinação para conhecer esses locais. Após, ele esteve envolvido em trazer essa cultura para o Brasil, e atualmente já existe Hackerspaces até em Porto Alegre.

Entusiasmado com a tecnologia das impressoras 3D, ele decidiu trazer a tecnologia para o Brasil, no formato livre e por valores acessíveis, em contra posição ao alto custo dos modelos comerciais. Para isso, ele buscou financiamento do Crowdfunding e criou o primeiro modelo da Metamáquina, baseado na Prusa Mendel, um projeto 100% livre, tanto em termos de software e hardware.

Essa primeira versão, a própria impressora era utilizada para gerar peças para a sua replicação e sofria de vários problemas, entre eles calibragem ruim, aspecto amador e tempo de produção muito alto. Por exemplo, as peças que eram impressas, necessitavam de 23h para ficarem prontas, o que resultava em cerca de 10 dias para produzir cada aparelho.

Após o sucesso de comercialização, os desenvolvedores resolveram que deveriam aperfeiçoar e trabalharam na pesquisa e estudo de engenharia para fazer algo muito melhor. Usaram a Prusa Air, uma variante da Prusa Mendel, como modelo. Entre as melhorias, se destacam:

– Utilização de uma placa de circuito como base (plataforma de impressão), que é aquecida por efeito joule. O aquecimento é necessário para manter a peça fixa na impressora;
– Troca das chapas de acrílico por chapas de madeira com corte a laser, para sofrer menos com o calor. O acrílico, com o tempo, tende a se deformar, devido ao aquecimento para derretimento do plástico;
– Redução de peças impressas, para agilizar a produção do equipamento. Atualmente, apenas 8 peças dos extrusor são impressas, pois não encontraram uma solução alternativa;
– Uso de 2 sensores de fim de curso em cada eixo;
– Uso de placa rambo, derivado do Arduíno, que também é hardware livre. Nesse sentido, eles até estudaram produzir a placa no Brasil, mas o custo seria muito elevado, por isso preferiram importar, mas no futuro, talvez acabem investindo na produção da placa aqui;
– Uso de tslots para juntar as partes da carcaça, ao invés de “dentinhos”, que tem a tendência de rachar no modelo em acrílico;
– Fixação dos motores na base, ao invés do topo. Na Prusa Mendel e Air os motores ficam na parte superior, o que eleva o centro de gravidade.
– Redução de tempo de produção, o que permite mais tempo para o desenvolvimento.

A linguagem de programação geométrica utilizada é o openscad, uma espécie de padrão pdf em 3d, e o modelo pode ser criado em praticamente qualquer editor 3D, desde que suporte o formato STL.

Em relação a matéria prima utilizada, ela não existia no Brasil. Por isso eles entraram em contato com uma empresa em SC especializada em produzir plástico e desenvolveram o produto em conjunto. Existe basicamente 2 tipos de materiais para impressão, o plástico PLA, baseado no amido de milho, biodegradável, e que se comporta melhor para a modelagem e o plástico ABS, derivado do petróleo e mais resistente (mas não suporta uma boa impressão). Um rolo de 1Kg tem o custo de R$ 150,00 (para qualquer um dos modelos).

No estande, fui informado que também existe um filamento de borracha compatível com as impressoras 3d, contudo ela não é fabricada no Brasil.

A Metamaquina 2 não será disponível em kit, apenas como produto pronto, pois no primeiro modelo eles estavam tendo muito problemas para dar suporte. Muita gente que não entendia nada da produção acabava comprando o kit por ser mais barato. De qualquer forma, a ideia é continuar mantendo o projeto livre, e nesse sentido, o Felipe oficialmente tornou o projeto público no GitHub https://github.com/Metamaquina/Metamaquina2 durante a palestra.

Felipe acredita que é essencial que as pessoas tenham autonomia sobre as tecnologias que elas tem acesso, contudo ele, como empresa de desenvolvimento de tecnologia, tem como política não liberar o código antes do cliente estar com o produto em mãos, para não viabilizar que a concorrência tenha acesso a seu processo de desenvolvimento, antes do seu produto estar na linha de produção.

Ele acredita que a maior violência do software proprietário é a negação de acesso a tecnologia daquilo que a pessoa está usando. Se a pessoa nunca usou ou nunca vai usar aquele software, ela não está sendo violentada, pois ela não é usuária daquilo. E eles levam essa política para o hardware, também. Ele poderia ter liberado as especificações apenas para os clientes, mas acredita que isso deve ser dividido com a comunidade.

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